Ela nunca havia ganhado nada dessa forma. Foi um simples e-mail e pronto, já podia se considerar com o ingresso na mão. Ou melhor, os ingressos. Foram dois, assim, bem fácil. Pensou logo em levar a mãe. Nunca tinham feito um programa assim com ela, teatro, comédia. Ela tinha certeza de que seria perfeito, um ótimo momento para conversarem à toa e rirem da vida. Convite feito, convite aceito. No domingo relembrou o convite, que foi prontamente confirmado.
Segunda, 18h20. Uma ligação para avisar que não passaria em casa. O novo plano era de se encontrarem na porta. Convite negado. Muitas desculpas, uma depois da outra. Mas nenhuma parecia fazer sentido. De repente um sentimento estranho tomou conta dela. Sabia o que era, mas não sabia interpretar.
Pensou em ligar para um amigo, porém pensou duas vezes. Não fazia dois dias, tivera um convite negado. O motivo? Os mesmos. Pensou de novo e resolveu tentar. Quem sabe dessa vez não seria diferente? Convite negado. Diferente dos outros dias, a voz do outro lado parecia de dó. Sentiu-se mais sozinha e, pior, humilhada. Não entendia por que precisava passar por isso. Fez algumas outras ligações e outras negativas ouviu.
Muitas vezes, em momentos tristes e felizes, ela pensava em chamar os que considera amigo para encontrar. Todos com compromissos mais importantes, nem que seja fazer nada. E a cada justificativa ela se sentia mais sozinha. Não por não acreditar que eles teriam coisas melhores, mas por saber que ela não era boa o suficiente para merecer um tempo. Essa certeza não chegava naquele dia, mas era fruto da sucessão de nãos que recebera durante muitos anos.
Pensou na possibilidade de não ir. Não gostava de sair sozinha. Mas o que fazer? Ficaria em casa eternamente caso dependesse de alguém. Sentia o coração apertar, mas decidiu ir. Sabia que não seria tão proveitoso, talvez desastroso, mesmo assim, foi.
Na porta, procurou pela pessoa que lhe daria a cortesia. Ou pior, as cortesias. O plural já lhe parecia uma afronta. E, na porta continuou, com as entradas na mão. Estava nitidamente aguardando por alguém. Entretanto, esse alguém nunca chegaria. Mas estava atenta a qualquer aparição surpresa. Esperava com vontade e esperança.
"_ Resolvi vir, não para você não ficar sozinha, mas por que quero sua companhia".
Fantasiou ouvir essa frase. Não ouviu. E na rua continuou, olhando atentamente para todos os lados. Muitas pessoas chegando. Ninguém conhecido. Quase todos em turmas, com seus amores, amigos, familiares. Os sozinhos logo encontravam seus pares. E felizes entravam para a peça.
Impaciente, com as duas cortesias na mão, fingia estar realmente esperando. Talvez tivesse vergonha de que notassem sua solidão, que tanto pesava sua fisionomia. Num momento ela se virou, procurou despistar seus movimentos e rapidamente escondeu um dos convites. Abaixou a cabeça e ficou olhando o outro. Ensaiou entrar, mas algo pedia para ela esperar. Podia ser um dos convidados chegando. Aguardou mais alguns minutos. Ninguém.
Entrou com olhos cheio d'água. Deparou-se com o local cheio, com mesas e suas cadeiras. Deveria escolher a melhor localizada, mas na verdade queria uma que a escondesse do mundo. A pista já estava lotada. Foi para a lateral e viu duas fileiras de mesas. Respirou fundo. Casais abraçados, amigos rindo. Escolheu uma mais à frente, a única disponível. Uma mesa para quatro. Sentou-se. E, novamente fingiu esperar alguém. Pessoas olhavam desconfiados para ela.
Naquela noite ela não bebeu, como seria de costume. Não comeu, apesar da fome que fazia doer seu estômago. O ar estava difícil, os olhos mareados.
"Não quero passar agosto esperando setembro chegar". Essa música, esse trecho, foi como uma flecha. Tudo o que ela mais desejava era não ser assim. Esperar não era algo que ela gostava.
De repente alguém a chamou. Um pouco de ar entrou nos seus pulmões. Talvez fosse a pessoa que poderia aparecer de repente. Mais uma vez estava enganada. Era uma moça pedindo uma cadeira. Levou as três que estava sobrando. Agora ela estava mesmo sozinha.
Viu a peça atentamente. Gostava de rir, era fácil fazê-la rir. Disso ela tinha sorte. Soltou algumas gargalhadas e, por alguns momentos, sentiu-se feliz de fato.
Fim do espetáculo. Sozinha, ela andava em direção à porta pensando em várias coisas que já disseram a ela sobre sua carência. Sim, ela era carente. Não havia como negar e doia muito nela.
"Você não precisa disso", "Você não precisa de ninguém", "Eu não tenho problema em sair sozinho", "Porque não me ligou", "Conte comigo"
Vozes repetiam insistentemente até que ela encontrou resposta para todas. Antes, somente abaixava a cabeça sem conseguir explicar o que sentia. Naquele momento, sabia que ela precisava sim, pois somente a idéia de solidão a entristecia. Tinha certeza de que precisava de todos a quem ela tinha estima. Repetiu para si mesma que ela tinha problema em sair sozinha pelo simples fato de que sair sozinha, para ela, não era uma opção. E, mais uma vez teve medo de ligar e ouvir um não. Outro não. Talvez o que a deixaria sem auto-estima para o resto de sua humilde vida. Mas uma das observações ficou sem resposta. "Conte sempre comigo".
Segunda, 18h20. Uma ligação para avisar que não passaria em casa. O novo plano era de se encontrarem na porta. Convite negado. Muitas desculpas, uma depois da outra. Mas nenhuma parecia fazer sentido. De repente um sentimento estranho tomou conta dela. Sabia o que era, mas não sabia interpretar.
Pensou em ligar para um amigo, porém pensou duas vezes. Não fazia dois dias, tivera um convite negado. O motivo? Os mesmos. Pensou de novo e resolveu tentar. Quem sabe dessa vez não seria diferente? Convite negado. Diferente dos outros dias, a voz do outro lado parecia de dó. Sentiu-se mais sozinha e, pior, humilhada. Não entendia por que precisava passar por isso. Fez algumas outras ligações e outras negativas ouviu.
Muitas vezes, em momentos tristes e felizes, ela pensava em chamar os que considera amigo para encontrar. Todos com compromissos mais importantes, nem que seja fazer nada. E a cada justificativa ela se sentia mais sozinha. Não por não acreditar que eles teriam coisas melhores, mas por saber que ela não era boa o suficiente para merecer um tempo. Essa certeza não chegava naquele dia, mas era fruto da sucessão de nãos que recebera durante muitos anos.
Pensou na possibilidade de não ir. Não gostava de sair sozinha. Mas o que fazer? Ficaria em casa eternamente caso dependesse de alguém. Sentia o coração apertar, mas decidiu ir. Sabia que não seria tão proveitoso, talvez desastroso, mesmo assim, foi.
Na porta, procurou pela pessoa que lhe daria a cortesia. Ou pior, as cortesias. O plural já lhe parecia uma afronta. E, na porta continuou, com as entradas na mão. Estava nitidamente aguardando por alguém. Entretanto, esse alguém nunca chegaria. Mas estava atenta a qualquer aparição surpresa. Esperava com vontade e esperança.
"_ Resolvi vir, não para você não ficar sozinha, mas por que quero sua companhia".
Fantasiou ouvir essa frase. Não ouviu. E na rua continuou, olhando atentamente para todos os lados. Muitas pessoas chegando. Ninguém conhecido. Quase todos em turmas, com seus amores, amigos, familiares. Os sozinhos logo encontravam seus pares. E felizes entravam para a peça.
Impaciente, com as duas cortesias na mão, fingia estar realmente esperando. Talvez tivesse vergonha de que notassem sua solidão, que tanto pesava sua fisionomia. Num momento ela se virou, procurou despistar seus movimentos e rapidamente escondeu um dos convites. Abaixou a cabeça e ficou olhando o outro. Ensaiou entrar, mas algo pedia para ela esperar. Podia ser um dos convidados chegando. Aguardou mais alguns minutos. Ninguém.
Entrou com olhos cheio d'água. Deparou-se com o local cheio, com mesas e suas cadeiras. Deveria escolher a melhor localizada, mas na verdade queria uma que a escondesse do mundo. A pista já estava lotada. Foi para a lateral e viu duas fileiras de mesas. Respirou fundo. Casais abraçados, amigos rindo. Escolheu uma mais à frente, a única disponível. Uma mesa para quatro. Sentou-se. E, novamente fingiu esperar alguém. Pessoas olhavam desconfiados para ela.
Naquela noite ela não bebeu, como seria de costume. Não comeu, apesar da fome que fazia doer seu estômago. O ar estava difícil, os olhos mareados.
"Não quero passar agosto esperando setembro chegar". Essa música, esse trecho, foi como uma flecha. Tudo o que ela mais desejava era não ser assim. Esperar não era algo que ela gostava.
De repente alguém a chamou. Um pouco de ar entrou nos seus pulmões. Talvez fosse a pessoa que poderia aparecer de repente. Mais uma vez estava enganada. Era uma moça pedindo uma cadeira. Levou as três que estava sobrando. Agora ela estava mesmo sozinha.
Viu a peça atentamente. Gostava de rir, era fácil fazê-la rir. Disso ela tinha sorte. Soltou algumas gargalhadas e, por alguns momentos, sentiu-se feliz de fato.
Fim do espetáculo. Sozinha, ela andava em direção à porta pensando em várias coisas que já disseram a ela sobre sua carência. Sim, ela era carente. Não havia como negar e doia muito nela.
"Você não precisa disso", "Você não precisa de ninguém", "Eu não tenho problema em sair sozinho", "Porque não me ligou", "Conte comigo"
Vozes repetiam insistentemente até que ela encontrou resposta para todas. Antes, somente abaixava a cabeça sem conseguir explicar o que sentia. Naquele momento, sabia que ela precisava sim, pois somente a idéia de solidão a entristecia. Tinha certeza de que precisava de todos a quem ela tinha estima. Repetiu para si mesma que ela tinha problema em sair sozinha pelo simples fato de que sair sozinha, para ela, não era uma opção. E, mais uma vez teve medo de ligar e ouvir um não. Outro não. Talvez o que a deixaria sem auto-estima para o resto de sua humilde vida. Mas uma das observações ficou sem resposta. "Conte sempre comigo".
1 | Comente:
É um sentimento estranho.
O de precisar de companhia e de não tê-lo, o de contar com alguém e não ter resposta.
Mas pelo menos curtiu a peça.
Sozinha. Ou melhor, em sua própria companhia.
;-)
Bjos e saudades
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