Pages

Subscribe:

8 de abril de 2008

Comodismo 1

Era manhã. Auditório cheio. Evento atrasado. Pessoas falando sem parar, se conhecendo, contando passagens da vida e as comparando com as histórias do colega ao lado. O da frente, ainda tímido, ouviu o papo, virou-se e disse:

— Comigo também foi assim!

E assim, ele inseriu-se no grupo, mesmo que timidamente.

E dessa forma o barulho ia aumentado, aumentando, aumentando, com se todos ali estivessem em uma enorme e lotada feira de verduras, falando com todo mundo sobre o mesmo assunto. E de certa forma estavam, menos a parte da feira.

— Qual o seu nome? Cargo? Idade? Onde mora? Você viu quantas pessoas estão com dengue?

Um ou outro resolveu ficar de fora daquela conversa coletiva, com cara de espanto, enrolando nos dedos a alça da pasta mal-feita que acabara de ganhar e, principalmente, temendo o futuro. Talvez analisando situações e pessoas. Pensando se fez a escolha certa. Calculando o custo/benefício.

Logo atrás, um jovem, cheio de vida e esperança, encontra um amigo, aparentemente mais jovem que ele. Narra, empolgado, as vantagens de estar ali. Afirma que não há lugar melhor e o amigo, que fazia parte do “um ou outro espantado”, começou a se sentir confortado, tomou aquele espaço como seu. Porém, não lembrou que o jovem empolgado ainda vive o calor da novidade.

Dois sentados mais ao meio, ao lado do corredor, seguravam a cabeça com os dedos e tinham uma expressão de tédio. Eram mais velhos. As pernas cruzadas e o corpo quase deitado na cadeira indicavam que já havia passado por isso. Muitas e muitas vezes. Pareciam ter pena da euforia da maioria. Talvez tenham lembrado de quando passaram pela mesma situação.

Uma mulher, até bem vestida, sobe ao palco e anuncia, após 40 minutos do horário marcado, que o tal evento estava atrasado. As pessoas se calam. Não sabem quem é aquela mulher, o que ela faz ou representa naquele mundinho que acabaram de entrar. Com exceção do jovem, que vibra ao vê-la, a ponto dos olhos brilharem como jóia. E conta, feliz, quem é ela.


0 | Comente: