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31 de agosto de 2010

R.I.P

Hoje foi anunciada a morte de um dos jornais mais tradicionais do país. O Jornal do Brasil, versão impressa, deixará de circular a partir de amanhã e só poderá ser lido digitalmente. Agora, o jornal, criado em 1891, se tornou o "primeiro jornal brasileiro da internet", segundo seu site.

Muitos 'gurus' devem estar falando aos quatro ventos "_Eu avisei. Em pouco tempo não existirá mais jornal impresso no mundo!". Já os que defendem devem estar se lamentando.

Eu faço parte do segundo time. Confesso que sou uma jornalista conservadora, gosto da apuração, da redação elaborada, da informação bem dada. A sensação de pegar, literalmente, um jornal para ler é indiscutivelmente melhor que simplesmente abrir uma janela do browser e ver inúmeras informações que não serão absorvidas. 

Concordo que na internet você tem total liberdade para ler somente o que interessar. Mas em meio a tanta informação, nem sempre útil, perde-se muita coisa. Tudo bem que, na web, você lê a notícia quase que em tempo real, mas não tem o desenrolar da história na mesma página. E, sinceramente, acredito que as pessoas conseguem focar mais lendo o jornal impresso do que em tela, onde várias outras janelas e programas de mensagens piscam freneticamente para chamar a atenção. E, quando você volta para a notícia, se volta, já perdeu o fio da meada. Aí alguém pergunta sobre o assunto e a resposta é: "Eu vi algo relacionado na internet".

Não é segredo para ninguém que os jornais, todos eles, não arrecadam o necessário para se manter. Anúncios são importantes para suprir essa baixa financeira. Entretanto, estão tomando o lugar que antes era destinado à informação. Com isso, os leitores, que não vão (e não devem) pagar para ver propaganda não compram o jornal, preferem acessar pela internet. Diminuindo a circulação, diminui-se as propagandas. Arrecadando pouco, os jornais demitem profissionais, o que gera a queda de matérias, tanto na quantidade como na qualidade. E quem vai comprar um jornal que não informa corretamente?

Todos esses problemas poderiam ser resolvidos da mesma forma do JB? Não. Para se ter bom conteúdo na internet, é preciso muitos profissionais. Lembra que eu falei que o online é praticamente em tempo real? Para se apurar tudo o que acontece, já que o critério de noticiabilidade (valor-notícia, que determina o que é mais importante para divulgação) se amplia na internet, a redação precisa ter muitos jornalistas. A publicidade continua, de forma diferente, mas estão lá, pipocando na tela a cada refresh. Alguém quer navegar em um portal de notícias cheios de propagandas? Pronto, perde-se acesso, dinheiro, profissionais e fecha.


Sendo assim, só nos resta concluir que o problema dos jornais impressos está na administração. Não é culpa da internet. A grande rede veio para ampliar o leque de oportunidades e informações. Ambos tem importância na sociedade e devem se completar. Ainda temos muitos municípios no país sem acesso à internet e, nesse caso, o jornal é fundamental.


A questão é a margem de lucro que grandes empresários, donos dos veículos de comunicação, pretendem colocar no bolso. Não existe mais aquele cara que abre/ compra/ dirige um jornal pelo prazer de informar. E é isso que falta no jornalismo, o bom e velho prazer dar notícia. Não digo que eles, os empresários, não devem pensar em crescimento, muito menos bancar todos os custos. Mas devem, pelo bem da sociedade em que vivem, trabalhar para que o jornal impresso mantenha sua principal função: a de informar.

Gutenberg deve estar se remoendo no túmulo.




2 | Comente:

Autor disse...

Eu li que essa história do JB vai muito além de ser 'o primeiro jornal totalmente online' do país.
O JB tá afundado em dívidas, BTW...

Eu, como vc, adoro manusear um jornal, virar as páginas de um livro.
Ler na internet ou num Ipad da vida nunca vai me dar o mesmo prazer.

:-)

Lua Nova disse...

Também sou pelos jornais e livros impressos. Não gosto de ler no PC nem mesmo no laptop. Além do mais, pra mim, não existe nada mais gostoso do que folhear um livro novo ou ler um jornal. Mas acho que as futuras gerações não terão essa memória "afetiva" com os impressos. Infelizmente, acho que o futuro deles está selado.
Que pena.
Beijos.