Coincidência, aviso, sinal... não sei

O seu cheiro, aquele mesmo de antes, me chamou a atenção. Parece que quer dizer algo, mas está calado. Me acompanhou até minha casa. Dormiu comigo e ainda está aqui, forte.

É como se você tivesse ao meu lado, do meu lado. No ônibus, ele estava lá. Está aqui agora. Inexplicavelmente está aqui.

Conheço bem, não estou enganada. Lembrei-me de quantas vezes adormeci com ele, o segui, desejei sentí-lo nas noites frias e solitárias.

Agora, ele me segue. Pra quê? Pra me fazer lembrar de tudo o que aconteceu e imaginar o que poderia ter acontecido?

Recolha-o, por favor. Não está me fazendo bem. Não por sua causa, pois você me faz bem. Ele me faz lembrar de momentos lindos que achei que iriam durar mais do que duraram. Déjà vu. Confesso que a sensação é boa. As lembranças são boas, ótimas.

Ah! Aquele cheiro. Todo seu. Barba, peito, pernas, barriga. Todo seu.

Bateu nostalgia. Saudade talvez. Saídas, viagens, praças, Sade, 15...

Não! Te abracei somente uma vez. Ele não grudou em mim. Está me acompanhando. Também não quis guardá-lo comigo.

Não é culpa minha. Juro. Nem lembrava. E está mexendo tanto que precisei escrever.

Quando me sentei aqui ele reapareceu. Será possível encontrar alguém com esse mesmo perfume? Pode ser. No ônibus sim. Mas aqui é impossível. Estou sozinha.

Me deixe em paz. Estava tudo correndo tão bem. Não tente me perseguir.

Não entenda errado, falo com o cheiro, seu cheiro e não com você, que não tem culpa alguma.

Será que o meu já perseguiu você algum dia? E te incomodou da mesma forma que o seu está me incomodando agora?

Não fique com medo. Isso não é uma cantada, tampouco uma declaração de amor ou um tentativa de lhe fazer sentir saudade ou pensar em um retorno. Não cabe mais isso entre nós. Ou talvez sim. Às vezes até penso que estamos errando quando corremos para lados contrários. Muita coisa indica que tudo não acabou. Daquelas sensações minhas que muitas vezes tem fundamento. Eu acho. Coisas que o tempo dirá!

Estranho. Parece querer me dizer algo, ma se calou e me vigia de perto, bem perto. Eu posso sentí-lo.